Self Killing...
... olhou para ele... batia descompassado pela dor, pelo medo... os seus olhos brilhavam iluminados pelas lágrimas que teimavam em se desprender... mas conteve o choro... não ia chorar... não podia... não era hora para vacilar... sabia o que tinha a fazer e não lhe restava outra alternativa... tinha mesmo que ser feito e por ele...
... segurou o seu coração numa mão, ergueu a outra onde segurava um pequeno punhal e num só gesto desferiu o golpe... sentiu a dor atroz do seu acto, quis gritar, quis chorar, mas com um esforço quase sobre-humano impediu-se de o fazer...
o sangue escorria-lhe das mãos... o seu próprio sangue... do seu próprio coração... viu-o bater lento... cada vez mais lento... até ficar sem vida...
olhava para ele ali inanimado, na sua mão, fingindo frieza... estava feito... tinha cumprido o seu destino... doía muito, mas essa dor é para ser quardada para sempre, mantida por perto... é o preço a pagar pela ousadia de um passado recente... sabia que no mundo em que se movia já não havia lugar para aquele coração, para o que ele sentia, para o que o fazia bater mais forte e nada mais havia a fazer senão eliminá-lo para que não voltasse a ousar...
... estava feito... mas não ia sentir pena... não ia sentir tristeza... não ia lamentar... não ia chorar por ele... não podia... não queria... deixou-se cair de joelhos largando por terra o coração e o punhal... acabava de matar uma parte de si... aquela parte que o fizera sentir-se pessoa... que o fizera sentir-se vivo... que o fizera sentir-se preenchido... e no seu lugar só irá deixar o vazio e a recordação... nada mais... nada mais quer lá colocar...
... sabe que nada voltará a ser igual... que só lhe resta esperar... esperar que o tempo passe e lhe mostre novos caminhos a percorrer... afinal, às vezes quando se ganha perde-se e às vezes quando se perde ganha-se... e ele perdeu... sabe que desta vez perdeu...